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Este microbook é uma resenha crítica da obra:
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN:
Editora: Panda Books
Martim Soares Moreno, guerreiro português aliado da tribo pitiguara, se perde entre as matas do litoral. Iracema, filha de Araquém, pajé dos tabajaras o encontra e o leva para a sua tribo.
Seus anfitriões, porém, estavam prestes a combater os pitiguaras e Martim decide, então, fugir. Iracema o convence a abandonar esse intento, propondo guiá-lo pelo caminho de volta com o auxílio de Caubi, seu irmão.
Nesse ponto, nasce um forte sentimento de afeto entre ambos, que rapidamente se converte em paixão. Enciumado, Irapuã, também apaixonado por Iracema, tenta assassinar Martim.
Depois de uma intensa noite de amor, Martim foge com Iracema. Eles seguem em direção a Poti, líder da tribo pitiguara, que via no português um verdadeiro irmão. Irapuã os persegue, encetando um perigoso conflito entre suas respectivas tribos.
Embora sofra de saudades de sua terra natal, Martim não pode levar Iracema para Portugal. Passa, então, a se integrar cada vez mais na sociedade indígena e assume o nome de Cotiabo, participando ativamente de uma das principais atividades indígenas – a guerra.
Iracema, agora grávida, definha aos poucos com saudade de seu amado que, em meio a incontáveis batalhas, ausenta-se por longos períodos. Ao regressar de novas escaramuças, Martim encontra seu filho, Moacir, nome que significa “filho do sofrimento”
Debilitada por complicações no parto, Iracema entrega o bebê e pede para ser enterrada junto a um coqueiro, localidade que passou a ser chamada de “Ceará”. De fato, Moacir é um dos mais relevantes símbolos desta obra, a despeito de sua breve atuação ao longo da trama.
Ele simboliza o povo brasileiro em sua formação portuguesa e indígena. De fato, recebe de sua mãe um profundo sentimento de amor e respeito pela terra, ao passo que, do pai, recebe a educação europeia. Para o autor, este deveria ser, precisamente, a representação ideal do povo brasileiro.
Martim retorna Portugal com seu filho. Após alguns anos, volta ao Brasil para auxiliar na disseminação da fé católica e dos valores cristãos. Saudoso, passa a frequentar regularmente o local em que Iracema está enterrada.
A beleza natural e a graça da virgem nativa Iracema são introduzidas por meio de um banho – uma cena de sensualidade batismal à qual somos convidados.
Compartilhamos com o invasor europeu o sentimento de culpa do voyeur, mas também a encantadora dor por tudo aquilo que é diferente e desconhecido, surpreendendo-nos com nossa própria vulnerabilidade.
O exotismo, o imperscrutável abismo entre os súditos do império português e a inocência da virgem nativa induz ao fascínio, fazendo seus lábios tremerem. Para o leitor moderno, sua paixão segue o antigo truísmo, segundo o qual os opostos se atraem inelutavelmente.
Existe, além disso, um tom de realismo psicológico que perpassa toda a obra e nos força à suspensão da descrença. Afinal, ao lado das fantasias evocadas em um cenário distante, do estupor das drogas tropicais e do misticismo inerente a uma cultura ancestral, o romance é ancorado por uma realidade familiar: uma noiva e um lar.
O leitor escolhe descobrir o segredo da virgem – e entregar-se a um sonho tropical. Seu sangue continuará a ferver? Sempre temerá os olhos de sua amante inocente? Ou ele se encontrará saturado de prazer e repleto de um anseio ainda mais poderoso: a saudade da pátria?
No enredo, o momento da traição sexual de Martim – que havia se casado em Portugal – é perpassado pela interação entre construtos culturais delineados em torno de dicotomias cruciais para a formação do povo brasileiro: brancos e índios (os chamados “negros da terra”), cristãos e pagãos, pragmatismo e impulsividade.
Consiste, também, em um exemplo – no microcosmo – das consequências trágicas de uma relação fracassada entre duas sociedades que nunca aprenderam completamente a respeitar e confiar uma na outra, retratando as dificuldades inerentes à fusão de duas culturas.
Essa união disfuncional é expressada pelas sábias palavras de advertência do velho Pajé Araquém, pai de Iracema, para o qual nada de positivo poderia vir aos tabajaras, seu povo.
No caso de “Iracema”, é o homem branco que não consegue integrar-se à nova comunidade. Ele é a serpente que sucumbe à paixão, afogando-se em desejos subconscientes, sem considerar as consequências.
Martim é inspirado a agir dessa maneira pelos céus – ele sente descer-lhe do céu uma inspiração. Não obstante, acredita que o seu compromisso com os prazeres da carne é apenas temporário.
Martim se mostra absolutamente equivocado, pois, Iracema é a heroína de apenas metade de sua história; a outra metade é dedicada a Iracema, esposa e mãe.
A paixão é o prelúdio do amor perene para os românticos: a virgem dos lábios de mel sacrifica o sangue de seus irmãos para preservar sua união com um invasor europeu.
Desse dia em diante a comunhão do casal se aprofunda irreversivelmente, mas, aos olhos de Martim, a paixão pertence ao reino dos sonhos.
Para ele, a felicidade doméstica é superada, no homem, pelas preocupações mais graves do patriotismo, da guerra e das alianças. Apesar de se encontrar em uma utopia do amor edênico com uma esposa simultaneamente bela, cuidadosa e fértil. Martim é incapaz de encontrar satisfação e paz de espírito, permanecendo constantemente inquieto.
A fidelidade de Iracema é contaminada com a perfídia de um coração que não pode ser fiel, então ela se torna ciumenta e desenvolve tendências suicidas.
Seu filho nascido em uma época de guerra, de um pai inquieto e de uma mãe abandonada, se torna vítima de um lar que não possui integridade orgânica. O sofrimento é a única canção de ninar que o pequeno Moacir conhecerá.
A despeito do clima trágico, há esperança na morte de Iracema, que sacrifica as últimas gotas de sua vida para alimentar o filho de sua união com Martim. Ela é a mãe de uma nova raça tristemente amaldiçoada com a sina dos exilados – o primeiro cearense, ainda bebê, era forçado a emigrar de sua doce terra natal. Estamos diante da predestinação de um povo?
Iracema – um anagrama da palavra “América” – tem sido considerado, pela crítica especializada, uma formidável alegoria do surgimento da nação brasileira. José de Alencar, um dos mais relevantes romancistas brasileiros, incorpora temas como o colonialismo, a miscigenação, o choque de culturas, o genocídio dos povos indígenas e a migração.
No Ceará, o romance é tratado com ainda maior reverência, com estátuas de Iracema e Martim adornando vários pontos das praias de Fortaleza. Estradas, prédios e bairros também recebem nomes de personagens, bem como localidades e eventos mostrados no livro.
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José de Alencar, além de escritor e político brasileiro, foi também um fundador dos romances com temática nacional. Hoje, ele é considerado o patrono da cadeira fundada por Machado de Assis na Academia Brasi... (Leia mais)
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